
Anúncios
1
Nessa questão, um texto literário em prosa, de Machado de Assis (1839-1908), é utilizado para avaliar conhecimentos acerca de figuras de linguagem. Particularmente, a ironia: Esaú e Jacó Bárbara entrou, enquanto o pai pegou da viola e passou ao patamar de pedra, à porta da esquerda. Era uma criaturinha leve e breve, saia bordada, chinelinha no pé. Não se lhe podia negar um corpo airoso. Os cabelos, apanhados no alto da cabeça por um pedaço de fita enxovalhada, faziam-lhe um solidéu natural, cuja borla era suprida por um raminho de arruda. Já vai nisto um pouco de sacerdotisa. O mistério estava nos olhos. Estes eram opacos, não sempre nem tanto que não fossem também lúcidos e agudos, e neste último estado eram igualmente compridos; tão compridos e tão agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam o coração e tornavam cá fora, prontos para nova entrada e outro revolvimento. Não te minto dizendo que as duas sentiram tal ou qual fascinação. Bárbara interrogou-as; Natividade disse ao que vinha e entregou-lhe os retratos dos filhos e os cabelos cortados, por lhe haverem dito que bastava. — Basta, confirmou Bárbara. Os meninos são seus filhos? — São. ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994." No relato da visita de duas mulheres ricas a uma vidente no Morro do Castelo, a ironia — um dos traços mais representativos da narrativa machadiana — consiste no
senso prático em relação às oportunidades de renda.
modo de vestir dos moradores do morro carioca.
misto de singeleza e astúcia dos gestos da personagem
interesse do narrador pelas figuras femininas ambíguas.
mistério que cerca as clientes de práticas de vidência.
2
Nessa questão, um texto literário em prosa, de José Américo de Almeida, é usado para avaliar conhecimentos acerca do romance de 1930 do modernismo brasileiro: Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos — esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres. Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas. Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos de seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados. Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomadismo. Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando. Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos — de ascite consecutiva à alimentação tóxica — com os fardos das barrigas alarmantes. Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais. ALMEIDA, J. A. A bagaceira. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978." Os recursos composicionais que inserem a obra no chamado “Romance de 30” da literatura brasileira manifestam-se aqui no(a)
contemplação lírica da paisagem transformada em alegoria.
análise psicológica da reação dos personagens à seca.
desenho cru da realidade dramática dos retirantes.
engajamento político do narrador ante as desigualdades.
indefinição dos espaços para efeito de generalização.
3
Nessa questão, um poema de Hilda Hilst é utilizado para avaliar a capacidade de compreensão de um texto poético: Se for possível, manda-me dizer: — É lua cheia. A casa está vazia — Manda-me dizer, e o paraíso Há de ficar mais perto, e mais recente Me há de parecer teu rosto incerto. Manda-me buscar se tens o dia Tão longo como a noite. Se é verdade Que sem mim só vês monotonia. E se te lembras do brilho das marés De alguns peixes rosados Numas águas E dos meus pés molhados, manda-me dizer: — É lua nova — E revestida de luz te volto a ver. HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 2018." Falando ao outro, o eu lírico revela-se vocalizando um desejo que remete ao
ceticismo quanto à possibilidade do reencontro.
tédio provocado pela distância física do ser amado.
sonho de autorrealização desenhado pela memória.
julgamento implícito das atitudes de quem se afasta.
questionamento sobre o significado do amor ausente.
4
Nessa questão, um poema de Cuti é usado para avaliar a capacidade de compreensão de um texto poético e sua relação com questões sociais: Quebranto às vezes sou o policial que me suspeito me peço documentos e mesmo de posse deles me prendo e me dou porrada às vezes sou o porteiro não me deixando entrar em mim mesmo a não ser pela porta de serviço […] às vezes faço questão de não me ver e entupido com a visão deles sinto-me a miséria concebida como um eterno começo fecho-me o cerco sendo o gesto que me nego a pinga que me bebo e me embebedo o dedo que me aponto e denuncio o ponto em que me entrego. às vezes!... CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza, 2007 (fragmento)." Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que traduzem experiências históricas de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico
acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade igualitária.
sofre uma perda de identidade e de noção de pertencimento.
engaja-se na denúncia do passado de opressão e injustiças.
submete-se à discriminação como meio de fortalecimento.
incorpora seletivamente o discurso do seu opressor.
5
isso ajudou?
um pouco
não
sim